Comunhão e Disciplina
“Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor... para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte.” (Fp 3.8-10.)

Para que eu conheça Cristo – não saber alguns fatos a seu respeito, mas conhecê-lo. Os filhos de Israel viam todos os atos de Deus, mas Moisés teve o privilégio de conhecer o caminho de Deus, conhecer os sentimentos de Deus, e realmente conhecer o Senhor, tendo comunhão íntima com o próprio Deus.

Hoje, queremos conhecer a Cristo como Moisés o conheceu. Nós também precisamos de uma íntima e real comunhão com Jesus Cristo. Nossa pregação e nosso ensino se preocupam por demais em conhecer os fatos a respeito do Senhor. É claro que devemos procurar saber tudo que for possível a respeito dele, mas nenhum conhecimento pode substituir a realidade de conhecer Jesus pessoalmente.

Certo dia, quando estava andando numa floresta, o quacre francês Stephen Grellet teve a impressão de ouvir uma palavra pronunciada de todos os lados. O riacho borbulhante a pronunciava, o vento a trazia de regiões distantes, as folhas das árvores murmuravam aquela mesma palavra – às vezes o vento a trazia, como num grito: eternidade, eternidade. ETERNIDADE. Essa única palavra o desafiou tanto que Grellet resolveu procurar a paz do coração, até encontrá-la.

Grellet não possuía nenhum livro cristão em francês, mas achou uma cópia de Nenhuma Cruz, Nenhuma Coroa, escrito por William Penn, em inglês. Sem entender o inglês, ele tinha de procurar no dicionário todas as palavras do livro. Queria conhecer o Senhor, portanto leu o livro duas vezes dessa maneira. Também começou a estudar a Palavra de Deus. Sem ter uma Bíblia em francês, conseguiu uma em inglês e passou a lê-la da mesma forma, consultando o dicionário constantemente. Às vezes ficava uma semana inteira para ler um só capítulo.

Qual a razão dessa procura incansável? Stephen Grellet queria conhecer o Senhor. Quando afinal chegou a esse conhecimento, deu início a uma das mais surpreendentes carreiras missionárias da história. Saiu pregando as riquezas insondáveis de Cristo a reis, imperadores e crianças – nas ruas, em casas, em barracões de escravos, prisões e até nas cozinhas de ladrões.

Não perdia uma oportunidade de pregar a todas as criaturas, em qualquer condição. Por quê? Porque conhecia o Senhor pessoalmente e havia aprendido a viver, tendo em mente os valores eternos.

Conhecimento acerca do Senhor é apenas o primeiro passo. Como o apóstolo Paulo, devemos continuar, para conhecer o poder de Cristo em nossa vida. Uma coisa é tornar-se cristão; e outra é ser um crente forte e poderoso.

As Escrituras afirmam que o mesmo poder que fez com que Jesus ressuscitasse dos mortos está à nossa disposição. Cristo, embora morto (a morte é o estado mais baixo do homem), foi ressuscitado pelo poder de Deus. Paulo desejava muito ter esse poder, e nós, como crentes, devemos desejá-lo também.

Mas não há ressurreição sem morte. Antes de experimentar o poder da ressurreição, é preciso que experimentemos a morte. Hoje em dia, evitamos a cruz e não sabemos por que somos tão fracos. Se ainda estamos vivendo para o pecado e para nós mesmos, Deus não pode nos entregar o poder, pois o usaríamos em benefício próprio.

O poder da ressurreição, portanto, só vem mediante a morte para o pecado e para o “eu”, a fim de que o Senhor possa fazer de nós novas criaturas em Cristo Jesus, criaturas a quem possa confiar o seu poder celestial. Somente depois de sermos mudados e transformados pela cruz é que Deus pode, seguramente, confiar-nos o poder de sua ressurreição.

Uma das provas de uma experiência cristã real é o fato de desejarmos santidade e poder em nossa vida cristã. Mas desejar apenas não basta. Devemos ter o poder de vitória pessoal para que possamos vencer. No entanto, mesmo vitória pessoal não é bastante. Queremos servir ao Senhor; portanto, devemos prosseguir e tomar o passo maior ainda da comunhão e dos sofrimentos de Cristo. É uma coisa morrer para o pecado, para si mesmo e para o mundo, mas outra bem diferente é ter comunhão com os sofrimentos de Jesus.

Estamos dispostos a dar esse passo – conhecer o Senhor no poder de sua ressurreição e servir àquele que nos amou e nos purificou dos nossos pecados através do seu sangue? Existe a realidade da cruz, mas à compreensão desse fato deve seguir-se a fé na cruz e sua aplicação pessoal. Há ainda um passo maior – o espírito da cruz. Às vezes, nós o chamamos de “espírito do Cordeiro sacrificado”.

Descobrimos, no nosso serviço cristão, que somos impedidos por coisas boas, e não unicamente por coisas más. Coisas boas também devem ser levadas à cruz para que sejamos totalmente livres para servir ao Senhor. Não há outro meio senão abraçar a cruz – primeiramente como morte ao nosso “eu” pecaminoso; depois, numa morte mais profunda a tudo que é bom.

A natureza nos ensina essa verdade. Quando um fazendeiro deseja uma boa colheita, naturalmente planta semente boa e não de má qualidade. Ao comprar a semente, não diz: “Qualquer semente serve; vou enterrá-la mesmo”. Não, pelo contrário! O fazendeiro diz: “Quero boa semente, do tipo que já foi experimentado e testado; assim posso ter a certeza de uma boa colheita”.

Deus nos salva e santifica para que possa nos usar no seu serviço. Cristo quer revestir-nos com o poder do alto, batizar-nos e encher-nos do Espírito Santo. A santificação tem dois aspectos: o negativo, por intermédio do qual é tirado o pecado; e o positivo, pelo qual se acrescenta alguma coisa. Ele quer ungir-nos e encher o vaso purificado com o Espírito Santo. O resultado será santidade de caráter e poder para servir. Então, e só então, estaremos aptos a servir ao Senhor.

Uma das maiores bênçãos da vida cristã é o conhecimento de que somos colegas do próprio Deus, e que temos o santo privilégio de servir a Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Que ele escreva estas palavras e seu princípio no nosso coração:

O plano da vida é morrer para viver.

Ser um com Jesus crucificado;

Para que a vida do ressurreto glorificado

Viva através de você.



O Pr. Ted A. Hegre é o fundador da Missão Evangélica Betânia. Faleceu em 1984. Deixou vários artigos e livros escritos, além de uma obra missionária que tem crescido e se espalhado pelo Brasil e pelo mundo.

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