PARA ONDE VAI A FAMÍLIA?

Larry Christenson

Nos últimos anos, tenho tido o privilégio de conversar com milhares de casais – alguns deles à beira do desespero – que estão desejosos de melhorar a vida e o relacionamento familiar.

As mães, em lágrimas, falam das mentiras e dissimulações que estão descobrindo nas filhas adolescentes, ou da rebelião do filho, aparentemente, contra toda e qualquer forma de autoridade imposta por adultos.

O pai abana a cabeça, atônito, ao olhar para a filhinha querida. Quase que da noite para o dia, ela perdeu aquele ar de inocência infantil. Passou a usar roupas mais ousadas e o cabelo meio despenteado. Anda com coleguinhas de aparência estranha e de conversa entremeada de gíria. Ademais, demonstra uma crescente familiaridade com rapazes.

Os pais estão arregalando os olhos de espanto, vendo nos filhos – de até sete e oito anos – atitudes e exigências incríveis e absurdas, e, na maioria dos casos, cedem a elas.

A esposa reclama que o marido nunca tem tempo para a família, e, no entanto, sempre espera que ela conserve a casa em perfeita ordem e as crianças bem cuidadas. O marido pergunta por que ele tem de lutar pelo pão diário – trabalhando até doze horas por dia – e, depois que chega em casa, ainda precisa resolver mil e um problemas. É por isso que grita e esbraveja, desafogando seu sentimento de frustração. A esposa, por sua vez, desabafa implicando com tudo. As crianças dão vazão ao seu descontentamento, fazendo malcriações ou escudando-se num silêncio rancoroso. A verdade é que, por trás de todas essas manifestações, há um apelo: O que é que vamos fazer? Como podemos solucionar esses problemas?

No passado, a família já atravessou outras águas turbulentas, mas sua estrutura é bem resistente. Em nossos dias, ela está sendo açoitada por ventos tempestuosos. Ondas bravias estão dando contra seu costado. Alguns alarmistas até já soltaram o brado de abandonar a embarcação. O casamento e a família estão naufragando, dizem. Nós, porém, já estamos navegando nesse barco há muito tempo. Sabemos que permanecer nesse tombadilho inclinado e inseguro ainda é melhor do que vagar à deriva num mar desconhecido. E, na verdade, a família e o casamento são estruturados de forma a suportar até a pior das intempéries sem sofrer danos em sua integridade. Para isso, porém, é necessário que haja uma mão firme ao leme.

Quando o mar está calmo, é possível o barco desviar-se ligeiramente de sua rota sem que sofra contratempos sérios. Os outros navios e as estações costeiras darão o sinal de alarme, em tempo de evitar o desastre. Antigamente, a própria sociedade era um esteio para o casamento e a família. Se um homem começasse a se desviar do caminho certo, logo seria alertado por um amigo interessado, o patrão, o pastor, outros membros da família, e até mesmo por outras pessoas mais severas ou críticas. Hoje, porém, quando a tempestade aumenta, esses pontos de orientação ficam perdidos em meio a ela. Em nossa sociedade, por exemplo, o mar bravio do relativismo já engolfou muitos deles.

A família vaga sozinha, batida pela borrasca, seguindo o próprio curso. Os sinais de alarme estão sendo sobrepujados pelo tufão dos tumultos e das mudanças. E na ponte de comando, o leme gira desgovernado. Falta aquela mão firme para segurá-lo. A família está sendo jogada de um lado para outro, à mercê dos ventos, pois o capitão abandonou o posto.

Inúmeros pais estão se instalando em sua ponte de comando, reivindicando seus direitos de chefe, sem, contudo, assumir as responsabilidades inerentes ao cargo. Muitos homens estão passando a direção de tudo para o “imediato”. Estão se furtando à sua função de encarnar aquele símbolo de coragem masculina que se mantém firme a despeito da tormenta, e do qual a esposa e os filhos podem receber força e inspiração.

O que vamos fazer para a vida em família dar certo? O pai que volte ao passadiço, pegue o leme, e trace um curso certo para sua casa. O grande clamor e necessidade da família em nossos dias é da mão firme de um pai que conserve na rota certa as vidas entregues a seus cuidados. Os homens que reconhecerem os problemas de sua família e resolverem assumir sua responsabilidade, vão precisar renovar totalmente sua compreensão do que é ser pai. A sociedade moderna precisa compreender o verdadeiro papel do pai, examinando-o em relação a três pontos de referência. Primeiro, o modelo de paternidade adotado em nossa cultura é completamente inadequado. Precisamos de um melhor. Segundo, o relacionamento entre marido e esposa também se acha um pouco nebuloso, cheio de conflitos e confusões. Precisa ser bem demarcado, em linhas claras. Terceiro, a direção que a família está seguindo tornou-se meio vaga e indefinida. Precisamos de uma boa carta náutica para que o pai possa projetar o curso sem dificuldades, tendo certeza do que está fazendo.

Um modelo, um imediato, um mapa: são esses os pontos de referência em torno dos quais deve girar o novo conceito de pai, e dos quais deve brotar uma nova orientação para a vida em família.

 Um Modelo

Alguns psicólogos e antropólogos afirmam que Deus é uma projeção da imagem paterna. Essa ideia de um Deus sábio, onipotente e todo-poderoso, dizem eles, seria simplesmente uma versão adulta daquele conceito infantil: “Meu pai sabe fazer de tudo!”

A Bíblia tem um ponto de vista bem diverso. Nossa ideia da paternidade de Deus não se fundamenta numa analogia com a humana. O oposto é que é verdade. A paternidade humana é que se inspira na divina.

“Quando penso na grandeza deste Plano, caio de joelhos diante de Deus Pai (de quem toda a paternidade, terrestre ou celeste, deriva o seu nome).” (Ef 3.14,15 – Cartas às Igrejas Novas.) A paternidade humana é a expressão ou uma ilustração da divina.

A paternidade de Deus é perpétua. Ele é Pai eternamente, como Cristo é Filho perenemente. Ele não se torna Pai quando nos adota. Pelo contrário, ele nos adota porque é o Pai eterno. Portanto a paternidade divina não é um mero antropomorfismo, determinado pela cultura. Nem constitui apenas uma descrição do relacionamento entre Deus e o homem. Antes, ela expressa uma faceta da natureza do Senhor, que antecede todo e qualquer pensamento de paternidade humana. Ela alcança toda a criação.

Essa amplitude da paternidade divina é uma das doutrinas básicas da fé cristã: “Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador dos céus e da terra... e de todas as coisas visíveis e invisíveis”. Se limitarmos nosso estudo da paternidade humana à esfera das culturas e das sociedades, nunca conseguiremos compreendê-la perfeitamente. A paternidade tem suas raízes na natureza eterna de Deus. Para termos uma boa percepção de todas as implicações da paternidade humana, precisamos entender bem a divina. Ele próprio é o modelo da nossa paternidade.

Que tipo de pai Deus é? Quais são as características de sua paternidade? Para conhecê-la, teremos de vê-la em ação – do mesmo modo que podemos entender um pouco de carpintaria se observarmos os princípios pelos quais o carpinteiro se orienta. Como é que Deus exerce sua função de Pai?

A paternidade divina opera de acordo com um princípio que, igual a ela, também é eterno. Trata-se do princípio de chefia, que foi inserido na própria natureza da criação. Por isso, ele diz o seguinte com referência à família: “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo” (1 Co 11.3). A paternidade de Deus se projeta na esfera humana através desse princípio de liderança. Então, de acordo com o modelo proposto por Deus, ser pai é atuar como “cabeça” da família.

  1. A Chefia Estabelece a Direção

 A primeira função da chefia é estabelecer e manter a direção da rota a ser seguida. É o comandante quem planeja o curso do navio, e é ele também o responsável pela chegada ao porto de destino. O conflito e a confusão em que se encontram muitos lares hoje são causados, em parte, pela extrema simplificação do exercício do comando. Ser o chefe da família, realmente, não se limita ao privilégio de ocupar a cabine do capitão e berrar ordens a torto e a direito. Na verdade, implica aceitar a responsabilidade de exercer a liderança de forma capaz e inteligente. A chefia consiste numa interação perfeita de três elementos básicos: submissão, autoridade e amor.

Qual é a palavra que associamos mais facilmente à expressão “cabeça da família”? A grande maioria das pessoas responderá imediatamente: “autoridade”. Entretanto o conceito de autoridade não é o principal no que se refere ao cabeça da família. É o segundo em importância. O primeiro é submissão.

O homem só começa realmente a compreender sua função de chefe da família quando reconhece que ele próprio se acha sob autoridade. Ele deve entender que também tem de prestar contas a alguém que lhe é superior. “Cristo é o cabeça de todo homem.” Para que um pai possa exercer plenamente a liderança sobre sua família, tem de se colocar sob o senhorio de Cristo. O princípio de chefia opera dentro de uma cadeia de comando bem definida. Se essa cadeia for interrompida em um de seus elos, a autoridade desmoronará.

Certo centurião romano aproximou-se de Jesus e lhe pediu que curasse um servo seu. Ele cria firmemente que o Senhor podia operar essa cura. Sua fé achava-se profundamente alicerçada numa boa compreensão do princípio de autoridade. “Pois também eu sou homem sujeito à autoridade”, disse ele, “tenho soldados às minhas ordens e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem.” (Mt 8.9.) Nós até poderíamos pensar que ele deveria dizer: “Eu sou um homem que tem autoridade”. Contudo esse centurião era humilde e sábio. Reconhecia que sua autoridade sobre os soldados provinha da consciência de que, como oficial romano, não passava de um dos elos de uma longa cadeia de comando. Assim, sua palavra era equivalente à do imperador. Ele percebeu que Cristo detinha uma autoridade semelhante no reino espiritual. Entendeu que o poder de Jesus sobre as forças espirituais baseava-se no fato de que ele também se achava sob autoridade e na posição certa dentro dessa cadeia de comando divina.

Do mesmo modo que a autoridade de Cristo se firma em sua sujeição a Deus, a do pai tem sua origem em sua submissão a Cristo. Não é com autoridade própria que ele comanda o navio, mas, sim, com a de alguém que se acha sob o domínio de Cristo. Ao exercer autoridade sobre a esposa e os filhos, não está seguindo os próprios caprichos, mas a Palavra de Deus. Quando estabelece uma certa rota para a família, baseia-se no roteiro que Cristo lhe dá, não em suas preferências pessoais.

Vemos, então, que o principal foco de atenção do pai não é dirigido para sua família – embora isso pareça paradoxal –, mas para Cristo. Se ele desviar a atenção desse centro, perderá também sua posição fundamental. Ele pode até se dedicar muito aos seus, pode se esforçar ao máximo para ser um bom chefe e pai, mas, se não estiver vivendo sob a autoridade do Senhor, estará edificando sobre a areia.

Muitos homens, dando uma demonstração de que têm uma visão distorcida, centralizam sua atenção nos filhos e nos problemas da família, esquecendo-se de sua responsabilidade para com Deus. Quando os filhos começam a ter atitudes de rebelião e a revelar descontentamento, eles redobram os esforços, mas com poucos resultados, na maioria das vezes. O problema é que estão dando prioridade a algo que não deve ter a primazia. Os filhos não precisam de mais cuidados dele, nem de maior parcela de seu interesse, nem de ser o centro das atenções. Eles precisam é do exemplo de um pai – bem como de outros homens – que esteja vivendo sob a autoridade de Cristo.

Um pai que está preocupado por causa da displicência do filho em questões financeiras, talvez precise ensinar-lhe alguns princípios gerais de organização. Cabe aos pais instruir os filhos nos aspectos práticos da vida também. Entretanto o problema pode ter causas mais profundas. O pai também não é responsável diante de Deus pelo modo como emprega seu dinheiro? Será que ele dá o dízimo? Talvez ele seja um homem bem-sucedido nos negócios, mas, se estiver resistindo à autoridade de Cristo no que diz respeito a finanças, não deve se espantar de o filho estar empregando mal o próprio dinheiro. Muitos dos nossos erros e pecados, que se acham escondidos para os outros, vão se revelar depois, através de nossos filhos.

  1. A Chefia Exerce Autoridade

 A autoridade, o segundo elemento de que se compõe a chefia, deriva da submissão do pai a Cristo. Se ele estiver vivendo em submissão a Deus, o Senhor lhe conferirá domínio sobre sua família. A autoridade exercida no lar não é a do próprio pai, mas a de Cristo, operando através do homem.

Já que a autoridade do pai tem sua origem em Cristo, ela deverá conter em si a brandura de Jesus. Pela manhã, o marido vê a esposa irritada e desorientada, com as crianças a exigirem sua atenção. Ela precisa servir o café e preparar as merendas escolares. Nisso, a menina surge com um pedido de última hora: a professora pediu que levasse uma caixa de sapatos vazia. O garoto diz que se esqueceu de trazer para casa seu papel do trabalho em grupo para os pais assinarem, e quer que a mãe vá até a escola assiná-lo, para que ele não perca os pontos.

À noite, o pai deverá chegar em casa, reunir a família, e montar um esquema de operação. A filha mais velha ficará encarregada da merenda de cada um. Ninguém mais deve trazer problemas de última hora. Cada um terá de verificar cuidadosamente sua lista de deveres na noite anterior, para ver se não se esqueceu de nada. Os pais vão se levantar meia hora mais cedo para fazerem juntos um momento devocional com leitura da Bíblia e oração. Assim, invocarão a paz de Cristo sobre seus planos e ideias. Depois, a família toda deverá se reunir para orarem juntos, antes do café.

Desse modo, todos irão centralizar a atenção em Cristo, que é a fonte de toda harmonia e paz. O pai usa sua autoridade, não para dominar a esposa e os filhos, mas para, de maneira branda, edificá-los, guiá-los, animá-los, fazer planos para eles e orientá-los.

Contudo sua autoridade também deve conter certo grau de firmeza e mesmo de severidade, as quais Cristo também possui. Enquanto um pai que é autossuficiente pode se tornar um pouco indulgente e inseguro, o que vive sob o domínio do Senhor é firme e enérgico. Sua família não tem dúvidas quanto ao que farão no domingo pela manhã: todos irão à igreja para cultuar a Deus. Esse pai não permite concessões nem com relação a uma honestidade absoluta, nem quanto ao uso de uma linguagem sadia em casa. A disciplina dos filhos não é um fato indefinido, a realizar-se num futuro impreciso. É uma questão já deliberada, pois é determinação do Senhor.

Eu e minha esposa descobrimos, certo dia, que a disciplina dos filhos (com aplicação da vara, se necessário) não é matéria de deliberação nossa, mas de Deus. O conhecimento dessa verdade transformou toda a atmosfera de nossa casa, quase que da noite para o dia. Quando o pai aplica a vara, não está impondo sua vontade ao filho. Na verdade, a disciplina que o pai aplica a um filho rebelde nada mais é que um ato de obediência à ordem de Deus. Depois que descobrimos isso, passamos a exercitar a disciplina pela vara com mais severidade, mais justiça e mais raramente também. A disciplina aplicada em obediência a uma lei moral, que é uma ordenança tanto para os pais como para os filhos, tem um efeito emocional e espiritual bem distinto da que é apenas uma expressão da vontade do pai. A criança logo percebe a diferença. E ela reage melhor à primeira, a que está operando através da cadeia de comando divina, do que à segunda. O pai que conhece sua posição de submissão ao Senhor não hesitará em aplicar essa disciplina firme, sempre que necessário, a fim de realizar a vontade de Cristo para a família.

  1. O “Cabeça” Provê Amor

 O terceiro elemento componente da chefia é o amor. O pai cristão, como chefe da casa, não deve dominar a família arbitrariamente. Ele usa essa posição como uma base para servir à esposa e aos filhos. Isso não quer dizer que ele se torna um servo deles, no sentido em que se moveria para aqui e acolá ao seu comando, a fim de agradá-los e satisfazer todos os seus desejos. O pai os serve assumindo a responsabilidade de ser o chefe da casa. Ele os serve com seu trabalho secular, desempenhando-o da melhor maneira possível, para atender às necessidades materiais da família. Ele os serve exercendo o tipo de liderança e orientação que trará unidade e edificação a cada membro da família e ao conjunto dela. Ele os serve tornando-se cada vez mais disciplinado sob a mão de Cristo. Serve-os incentivando seu potencial intelectual e artístico. Ele os serve tomando o comando de tudo, e juntamente com eles, propondo objetivos realistas, que estejam em harmonia com a Palavra e a vontade de Deus.

Portanto, o pai crente serve a sua família atendendo às suas necessidades emocionais, materiais, sociais, intelectuais, culturais e espirituais. Era esse amor que Jesus disse que deveríamos esperar de Deus, que é o modelo para todos os pais. Ele nos dá o pão de cada dia. Ele nos protege do mal. Ele nos leva ao seu reino.

Um Imediato

 O ponto básico para se ter uma boa compreensão do relacionamento entre marido e mulher é reconhecer que ele é parte da cadeia de comando de Deus. “Cristo (é) o cabeça de todo homem.” (1 Co 11.3.) Com respeito à autoridade, a relação entre marido e mulher é exatamente paralela à do Pai e do Filho. Entendendo esse fato, desfazemos muita confusão e incompreensão.

Consideremos a relação entre o Pai e o Filho. O Filho está sujeito ao Pai, e, no entanto, é igual ao Pai. Num relacionamento puramente humano, a ideia de sujeição muitas vezes carrega consigo uma nuança de inferioridade. No casamento verdadeiramente cristão, tal não deve acontecer. Aí ele se baseia em um modelo superior. O marido e a esposa são um, como o Pai e o Filho. Todavia a esposa permanece submissa ao marido em tudo, assim como o Filho é submisso ao Pai em tudo. A igualdade e a submissão, em vez de serem condições opostas, são realmente as duas faces de uma mesma moeda. No Senhor, elas não significam a degradação de um e a exaltação de outro, mas elementos inerentes à natureza de ambos. No casamento, não pode haver um sem o outro. Se a esposa perder sua submissão ao marido, perderá também sua unidade com ele. Se o marido abdicar de sua responsabilidade como cabeça da casa, estará frustrando o princípio central do relacionamento que Deus estabeleceu para ele e a esposa.

O Pai exalta o Filho. Tem prazer em exaltá-lo, e em honrá-lo. É desse modo que a chefia opera quando fundamentada em amor. A cortesia que o marido demonstra para com a esposa, o modo como ele a honra diante dos filhos, sua visível estima por ela constituem o alicerce sobre o qual se edificam o respeito e a confiança dela para com o marido. Por sua vez, a mulher também exalta o marido, reconhece sua liderança, submetendo-se de bom grado à sua autoridade – como Jesus exalta o Pai e se submete à autoridade dele.

As mulheres ocidentais, hoje em dia, não se acham realmente subjugadas nem oprimidas, nem precisando de uma “libertação”. É estranho pensar que alguém que nasceu e cresceu em nossa cultura, nos últimos quarenta anos, possa ter tal ideia. O que realmente está “adoecendo” a cultura ocidental é a falta de autoridade masculina. Muitos homens estão simplesmente abandonando sua responsabilidade.

Nossa sociedade está se tornando cada vez mais matriarcal. As mulheres estão assumindo a criação e a disciplina dos filhos, a manutenção e direção da casa, a conservação da imagem pública da família na comunidade, a participação da família nas atividades cívicas e religiosas, e até o sustento da casa, em alguns casos. Não é de se admirar que estejam começando a reclamar! Vivemos numa época em que o senso de valor e a compreensão se encontram tão distorcidos, que a solução de que dispomos é continuar no erro. As mulheres desejam mais oportunidades para tomarem as responsabilidades dos homens. É como se um atleta, chegando exausto ao final da corrida de uma milha, recebesse a ordem de se colocar em posição para partir novamente.

É lógico que as mulheres que trabalham num certo ramo ou profissão merecem receber salários condizentes com o que produzem, sem se levar em conta o seu sexo. Tais considerações, porém, embora não sejam de todo irrelevantes, situam-se fora dos fatores centrais que estão convulsionando o relacionamento familiar. Apesar de toda essa pregação sobre a emancipação da mulher como dona de casa, mãe, etc., que está sendo vomitada hoje em dia, a maioria das mulheres ainda acaba se casando e tendo filhos. Nem todas essas conversas sobre o melhoramento das condições de trabalho e emprego conseguirão resolver o problema que elas estão enfrentando atualmente.

O verdadeiro problema é a abdicação em massa por parte dos homens. O que as famílias precisam não é de uma “igualdade” entre marido e mulher, estabelecida por leis humanas. A verdadeira igualdade já existe; foi decretada por Deus e está aí para ser adotada. O que falta realmente é uma autoridade certa. Os homens devem assumir a responsabilidade de ser o cabeça da família. Assim, as mulheres encontrarão, sob a autoridade deles, uma medida de libertação que nenhuma emenda constitucional poderá lhes conceder.

Um Mapa

A principal finalidade da família cristã é glorificar a Deus, dando ao mundo uma amostra do reino dos céus. Ela foi criada para ser uma demonstração viva das realidades e sentimentos celestes.

Como é que a família pode realizar essa tarefa? De que maneira pai, mãe e filhos devem agir para que aqueles que os veem e os conhecem possam dizer: “É, ali há um pedaço do céu na terra”? Toda a informação necessária está na Palavra de Deus. A meta que a Bíblia coloca diante da família é nada menos que esta: o céu na Terra (Dt 11.21). E as Escrituras delineiam o rumo a ser seguido para se atingir esse fim. É o seguinte: “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma; atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontal entre os olhos. Ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e levantando-vos” (Dt 11.18,19).

O mapa do pai é a Palavra de Deus. À medida que ele vai aplicando essa Palavra à sua família, esta passará a seguir um curso certo em meio às tempestades dos dias atuais, e finalmente atingirá o alvo proposto por Deus. Nesse ponto, o papel do pai é, basicamente, duplo. Ele é profeta, pois apresenta Deus à sua família; e é sacerdote, porque apresenta a família a Deus.

O ensino religioso que Deus deseja que os pais deem a seus filhos não pode ser feito às pressas. Contudo tem de ser diligente. “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos.” (Dt 6.6,7.) Não é para ser imposto com um espírito duro, opressivo, mas por uma suave operação da Palavra e do Espírito de Deus, e introduzida na família de forma bem natural. “Delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (V. 7.) A Palavra de Deus se torna um guia prático para todas as ações. Através dela, Jesus passa a habitar no lar, do mesmo modo que a luz do Sol penetra pela casa, quando se abrem as janelas.

O objetivo geral desse ensino é cultivar a presença de Jesus no seio da família. Por isso, ele tem de ser diligente, pois a presença de Cristo ali é de suprema importância. Vivemos numa época em que há milhares de “cantos de sereia” entrando pelos ouvidos de nossos filhos e chegando à sua mente. Não basta lhes ensinar um código de ética ou algumas orações de rotina. Nosso lar precisa estar tão saturado da presença do Senhor, que eles o encontrem a cada passo e venham a conhecê-lo como conhecem os pais. Em tal atmosfera, Jesus conquistará o coração deles facilmente e dominará todo o seu pensamento. E esse é o único antídoto eficaz contra os poderes das trevas e da corrupção que se acham à solta no mundo de hoje. Já se foi o tempo em que os pais podiam dar aos filhos uma instrução religiosa apenas superficial. Nossos filhos têm duas opções: ou eles serão cheios de Cristo e se consagrarão a ele inteiramente, ou então serão subjugados pelo pecado e se entregarão a ele de corpo e alma. Se não lhes “dermos” Cristo, tudo que pudermos lhes proporcionar não terá nenhum valor.

Quantos homens – inclusive crentes – levam a sério seu papel de profeta da família? Quantos podem, realmente, chegar diante de Deus e dizer: “Eu ensinei a meus filhos as tuas verdades”? Quem é que leva os filhos à escola dominical? Em geral, é a mãe. Quem toma a iniciativa do culto doméstico? A mãe. Quem ora com os filhos na hora de dormir? Ainda é a mãe. O maior responsável pelo declínio da família e da igreja é o fato de o pai abdicar de sua função de líder espiritual. Pela maneira como vive e age, ele está “ensinando” aos filhos que “religião é coisa de mulher”. Foi por causa disso que um grande teólogo afirmou que a melhor bênção que um avivamento espiritual poderia nos trazer hoje seria a recondução dos homens à responsabilidade da liderança espiritual.*

*De uma palestra do Ver. Derek Prince. O autor quer reconhecer publicamente seu débito para com o Rev. Prince, no sentido de que utilizou muitos pensamentos nele neste texto.

A função sacerdotal do pai é um complemento natural à sua função profética. Pela oração e intercessão, ele apresenta sua família a Deus. Desejamos lembrar aqui a autoridade espiritual de que Deus investe aquele que é chamado para ser sacerdote. Sua oração tem poder, porque Deus lhe confere autoridade. E ele não pode fugir a ela por uma questão de falsa modéstia. A responsabilidade primária repousa sobre o pai. Depois, caso o pai esteja ausente, é que ela se transfere para a mãe. Tendo sido chamado para ser o sacerdote de sua casa, o pai deve chegar-se diante de Deus reverentemente, mas com ousadia, e apresentar-lhe cada membro da família. O pai que protege e cerca os seus com essa intercessão poderosa, está firmando o bem-estar deles sobre a rocha.

As orações que ensinamos a nossos filhos são parte integral da vida familiar. Por elas, a criança entra em contato pessoal com Deus. Entretanto elas não podem tomar o lugar da oração sacerdotal do pai, que se acha revestida de uma autoridade toda especial. E a finalidade dela é proteger a família e prover as necessidades desta.

O papel de intercessor requer uma vida devocional disciplinada. O pai-sacerdote que é negligente em sua meditação e oração assemelha-se ao caçador cujo rifle está enferrujado, ou ao arqueiro que tem o arco sem corda. Aquele que não possui muita intimidade com o Senhor não obterá muitas bênçãos para os seus.

Vivemos dias tempestuosos, caracterizados por grandes revoluções morais e espirituais. Não podemos enfrentar uma época difícil como esta com palavras supercorteses, que não levam a nada. Por isso, queremos ir direto ao assunto: Pai, a responsabilidade da família está em suas mãos. Assim que você tomar o leme e assumir a posição certa, Deus se colocará do seu lado. Desse modo, você transformará seu lar num “pedaço do céu na Terra”.

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